Papa Francisco: Big Bang não contradiz cristianismo. Uma análise filosófica e histórica.

UMA ANÁLISE FILOSÓFICA E HISTÓRICA

O papa Francisco afirmou semana passada (dia 27), na Pontifícia Academia das Ciências, em Roma, a acadêmicos que as teorias do Big Bang e da Evolução são reais, não contradizem o cristianismo e fazem parte dos planos divinos. “O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige”, disse. "O desenvolvimento de cada criatura não contrasta com o conceito de criação, pois a evolução pressupõe a criação de seres que evoluem." O pontífice criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis e entendem que Deus agiu “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”. Compartilhe no Facebook: http://migre.me/mHQVv

A notícia em questão, ilustra uma disposição no meio teológico, de repensar sobre a necessidade de tantos contrastes entre ciência e religião. Por muito tempo, esses dois meios de conhecimento tentaram anular um ao outro para se propagarem. Teorias como a da Geração Espontânea, que defendiam que os seres pequenos eram gerados instantaneamente pelo ‘fluido vital’ e não pela reprodução, já foram completamente descartadas já no séc. XIX por Louis Pasteur. Mas ainda atualmente, a Teoria da Criação Instantânea digladia com a Teoria do Big Bang, e a Teoria do Desing Inteligente compete por espaço com a Teoria Sintética da Evolução (neodarwinismo).

Em 2005, o ex presidente dos EUA, George W. Bush tentou impor nas escolas o ensino do Desing Inteligente e a proibição do ensino do moderno evolucionismo. Esta primeira, defende que o homem foi criado inicialmente como é hoje, e é fruto de uma análise literal do livro da criação do cristianismo somado á uma tentativa de dar um status de ciência á ela. Seus defensores desenvolveram uma análise superficial e otimista do funcionamento dos seres biológicos, que os fariam indicar uma perfeição dos seres vivos que lembrasse a perfeição de Deus. No entanto, fatos diversos, como a inviabilidade da desembocamento da linfa (líquido cheio de impurezas coletadas do corpo) no coração, para a saúde humana, derruba rapidamente essa pseudociência. Contudo recentemente, a fim de propagar as revelações da Gênesis, sem afirmar condenar a ciência, teólogos como o atual representante da Igreja Católica fazem uma reinterpretação do livro sagrado cristão. Nesta, a instantaneidade com que se fez o homem e o universo, citada no livro, não é algo relacionado á temporalidade, nem mesmo á ausência de processos intermediários, mas sim à facilidade de concepção ‘mental’ de um ‘projeto’ por um Deus atemporal. Isto não é provado nem negado pela ciência. Contudo, em 2005, o colaborador próximo de Bento XVI, Cardeal Schoenborn defendeu que “a evolução no sentido da ancestralidade comum pode ser verdade, mas a evolução no sentido neo-darwinista - um processo não planejado e sem guia - não é”.

Ele defende essa posição, explicando que o neodarwinismo é insuficiente para explicar toda a complexidade dos sistemas biológicos. Sabe-se que mesmo para Darwin e os atuais geneticistas, tanto o surgimento dos primeiros germens quanto as concepções de seres vivos atuais, estão ainda envoltos de um grande mistério no qual se esbarra a limitação das conhecidas regras que regem a vida. Mas, se existem forças desconhecidas e matérias não detectadas ainda pelos nossos equipamentos, sob o comando de uma inteligência capaz de agir sobre os seres vivos de forma a criar o principio da vida e até mesmo induzir algumas mutações, não se pode provar cientificamente ainda, muito menos ser reafirmado pelo neodarwinismo (já que este parte da premissa da aleatoriedade das mutações, podendo apenas ser estimuladas for fatores ambientais como radiação por ex.). Ou seja, a Teoria Sintética da Evolução, não pode reafirmar o “Novo Design Inteligente”, pelo contrário: é a sua insuficiência em explicar o princípio da vida, que torna convidativa uma especulação metafísica sobre fenômenos físicos desconhecidos com possíveis causas inteligentes.

Além de sobre criação do ser, há uma revisão teológica a respeito da criação de todo o universo. A Teoria do Big Bang, que por muito tempo foi combatida pelos cristãos, tem nos seus fundamentos matemáticos a teoria geral de Albert Einstein da relatividade, juntamente com as teorias padrão de partículas fundamentais, e visa explicar como o universo deve ter surgido de um evento violento, ocorrido á aproximadamente 13,8 bilhões de anos atrás. Essa teoria se desenvolveu a partir da descoberta, em 1929 por Edwin Hubble, de que o Universo está em em expansão de modo que as galáxias ao redor da Via Láctea estão se afastando, cada uma com uma velocidade proporcional à sua distância desta. Logo percebeu-se que deve ter havido um instante no tempo, quando todo o Universo estava contido em um único ponto no espaço. Atualmente, experimentos que investigam a primeira fração de segundo da existência do universo, indicam que ele de fato, passou por uma expansão explosiva em seus momentos iniciais, sem que a gravidade o consumisse nos seus primeiros instantes. Eles se baseiam na análise da radiação cósmica de fundo. Mas agora, muitos pensadores de diversas religiões atuais, anunciam não acreditarem que a Biblia tentou explicar literalmente como o universo surgiu tal como é hoje, e que, portanto não rejeitam a Teoria do Big Bang. Acreditam que as revelações bíblicas tratam na verdade, apenas da concepção consciente da criação antes que ela acontecesse, e de sua finalidade para seu criador.

Para muitos cientistas, a ciência abre espaço para essa possibilidade, embora não a prove. Um dos motivos para isso é a o fato de a curiosa aglutinação que deu origem ás galáxias ser ainda um mistério que pode indicar uma idéia de projeto, no ponto que deu origem á tudo o que existe. No entanto, Papa atual vai mais longe: seguindo uma linha dos seus últimos antecessores, defende que o Big Bang não apenas não contradiz a intervenção criadora, mas a exige.
Se houve uma abertura das religiões para as verdades científicas e da ciência para a admissão de que também não é necessariamente o único meio de conhecimento, é necessário ainda, no entanto, o entendimento de que esses meios de conhecimento são complementares e como defende Bertrand Russel, não devem visar servir um ao outro. Assim sendo, os diversos meios de busca da verdade (filosofia, religião e ciência) podem ser discutidos, respeitando cada um seu escopo e desde que essa discussão seja conduzida pela razão e com humildade, posto que a arrogância humana pode levar á negação indiscriminada, e não metódica de toda e qualquer forma de obtenção da verdade que esteja fora de sua capacidade de observação sensorial ou tecnológica, ou que contrarie á idéia de verdade mais confortadora, ou que vão contra ás antigas crenças, ou mesmo que seja incompreensível pela sua razão.

Ciência (do latim scientia = sabedoria, conhecimento) é o conhecimento de caráter racional, sistemático e seguro dos fatos e fenômenos do mundo. Nos livros de sociologia, é comum autores alegarem seu objetivo como o de propiciar compreensão do homem sobre o mundo, para exercer o controle sobre a natureza. Mas este é apenas um dos objetivos da ciência da natureza, que é um tipo de classificação de Hempel, dentro da ciência. Uma classificação anterior á esta, feita por Comte, a ciência é dividida em: ciência pura e ciência prática, sendo esta primeira centrada no estudo contemplativo da natureza e a segunda, do desenvolvimento de conhecimento com finalidades práticas específicas. Ou seja, os objetivos da ciência são, e sempre foram muito mais amplos do que a dominação da natureza pelo homem. Com a astronomia, a mais antiga delas, o homem busca também, entender de onde veio, para onde vai, qual o seu lugar no universo, se estamos sozinhos, se existe uma ordem cósmica revelada pelo movimento dos astros celestes (hoje vemos que nenhuma rota é constante, e a única lei é a da física). Mas a astronomia nem sempre foi uma ciência. Até Galileu que revolucionasse o método experimental, era apenas um conjunto de observações que visavam servir á uma ‘verdade’ teológica, era como a medicina antes de Hipócrates.

As observações estavam muito contaminadas pelas “verdades imutáveis” da Igreja Católica, pois se buscava a ‘verdade’ a fim de enxergar o anunciado pelas revelações. No entanto, revelações transcendentais, também já impulsionaram muitas descobertas cientificas, ou pelo menos às anunciaram, para que fossem provadas apenas muito tempo depois. Esse foi o caso de Giordano Bruno, que pensou a existência de um Universo muito além dos seus olhos, a partir de um sonho. Assim, o caráter nocivo ou impulsionador das diversas revelações religiosas, no “fazer ciência” é algo que deve ser discutido em qualquer religião ou entre núcleos de discussões científicas, para que não caiamos no dogma do cientificismo nem no fanatismo religioso.


Fontes:
Folha de S.Paulo
NASA
Veja
Papa Francisco: Big Bang não contradiz cristianismo. Uma análise filosófica e histórica. Papa Francisco: Big Bang não contradiz cristianismo. Uma análise filosófica e histórica. Reviewed by Unknown on 22:07 Rating: 5

Um comentário

  1. Boa Tarde !

    Me Chamo Frederico, estudo ufologia a 16 anos, tenho uma página sobre ufologia no facebook, um grupo no facebook e um canal no youtube para divulgar a ufologia de forma séria.

    Vi em seu blog uma postagem de SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2012 sobre o posssivel disco voador no céu de campos, gostei da sua colocação no vídeo e dos esclarecimentos, estou montando um grupo de "UFOLOGIA" aqui na cidade, seu blog tem um ótimo conteúdo, gosto da astronomia, estamos formulando a primeira reuniao sobre ufologia aqui em campos no proximo final de semana, caso você ou algum amigo tenha interesse, pode entrar em contato comigo, obrigado pela sua atenção. (fredericocezar1982@yahoo.com.br)

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